sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Dia de Halloween - A história de Jack O'Lantern


Hoje, na noite de Halloween partilho convosco uma história sobre uma personagem que todos conhecem, mas que poucos conhecem (penso eu) a sua origem.

Jack O'Lantern é uma história tradicional irlandesa e que foi levada pelos emigrantes deste país para os Estados Unidos, constituindo uma figura central nas comemorações deste dia.




 “A LENDA DE JACK DA LANTERNA”


Há muito tempo atrás, vivia na Irlanda, um homem de nome Jack que era muito grosseiro para todas as pessoas. Jack não respeitava ninguém: maltratava a esposa, os filhos, os amigos... Aliás, ele não tinha mais amigos, justamente por causa dessa forma grosseira com que os tratava. Jack fazia tantas coisas erradas, era tão sem escrúpulos que foi apelidado de "Jack Miserável". 

Um dia o Diabo estava a ver a Terra através do fogo mágico do inferno e viu Jack. Ele viu um Jack maldoso, do qual gostou muito. Daí em diante, todos os dias, o Diabo tirava um tempo para se divertir com as maldades que Jack fazia. Decidiu que, quando Jack morresse, iria morar com ele no inferno, mas Jack estava ainda longe da sua hora da morte e como o diabo tinha muita pressa em ter a sua companhia, decidiu ir até à Terra e trazê-lo para o inferno de uma vez por todas. 

Quando o Diabo chegou, Jack estava numa taberna sentado à mesa com o seu modo grosseiro de sempre exigindo da taberneira uma garrafa de vinho. 

O Diabo sentou-se à sua mesa e antes que Jack reclamasse alguma coisa, disse numa voz tenebrosa: 

̶ Jack... Chegou a sua hora... Vim para levar a sua alma... Ela pertence-me. Como a morte ainda está longe, eu vim reivindicá-la pessoalmente, pois não quero extravios... Você, Jack é um de meus súditos mais perfeito no que diz respeito à maldade. Não vou permitir que se torne uma alma boa... Você diverte-me muito... Quero-o na minha casa, e já... 

Jack assustou-se, mas como sempre foi um bom burlador, não se intimidou. Disse ao diabo: 

̶  Mas o senhor chegou muito cedo. Eu ainda não bebi nem um gole do vinho que acabei de pedir... Não, eu não estou pronto ainda. Se quiser levar-me, vai ter de esperar que eu beba o melhor vinho da minha vida! E para não ficar aí sem fazer nada, eu o convido a saboreá-lo comigo. Afinal, com o calor que faz na sua casa, duvido que já tenha alguma vez tenha bebido algo tão bom. 

O diabo animou-se e aceitou o convite. O vinho era tão bom que uma única garrafa não foi suficiente para os dois. Tomaram várias garrafas até que o diabo reclamou que estava na hora de irem andando. 

̶  Vamos embora, meu seguidor! A sua hora chegou... Pague a conta e vamos... 

Jack, que era muito finório, enfiou a mão no bolso para tirar o dinheiro. O Diabo não lê o pensamento dos homens e por isso não podia ler o que Jack estava a tramar. Assim, Jack fez de conta que apanhou um susto: 

̶  Eh! onde está o meu dinheiro? Parece que algum ladrão roubou-o sem que eu percebesse... E agora? Como vou pagar essa conta? 

̶ Nem mais... Irás pagar como sempre fizestes, passando a perna na taberneira. – Disse calmamente o diabo que de maldade entendia muito bem, mas Jack retrucou dando um pulo: 

̶  Isso é que não! Se tem uma coisa que nunca deixei de fazer foi de pagar a conta do vinho que bebo. Está a pensar que vou deixar essa gentalha pensar que vou embora? Não, de jeito nenhum! Não saio daqui sem pagar minha conta! E começou a berrar. 

O Diabo, temendo chamar atenção sobre si, começou a ficar nervoso. Perguntou a Jack: 

̶  O que é que você propõe que se faça para resolver o problema? 

Esta frase era tudo o que Jack queria escutar. Rapidamente apresentou a proposta: 

̶  Você disse que é o Diabo, certo? 

̶  Sim, eu sou o Diabo. 

̶  Pois então... Você não é o todo poderoso que se pode transformar em qualquer coisa? 

̶ Mas é claro que sim, – disse o Diabo todo orgulhoso. – E o que isto tem a ver com sua história de pagar a conta? 

̶ Você transforma-se em dinheiro. Eu pago a conta e depois transforma-se novamente e encontra-se comigo lá fora. 

O diabo pensou que Jack estava a querer fugir da taberna. Deu um sorrisinho maroto e disse para si mesmo: 

“Esse esperto está a pensar que pode fugir de mim. Vou fazer o que ele quer e quando ele menos esperar, eu me materializo ao lado dele, eh eh.” 

E ZUUUPPT XÁ! Bem rápido, num milésimo de segundo o diabo transformou-se numa moeda de ouro sobre a mesa. 

Mais que rápido que nunca, Jack apanhou a moeda. Contudo, ao invés de pagar a conta, ele guardou-a numa sacola para moedas que tinha um crucifixo gravado no couro. O Diabo ficou preso. Não podia sair do porta-moedas de Jack. Apanhado numa ratoeira, começou a implorar que o tirasse dali. Jack, esperto, propôs: 

̶   Eu tiro-o daí sim, mas só se você me prometer uma coisa... 

̶  Diga logo o que quer. – Retorquiu o diabo. 

̶  Pois muito bem, eu quero que você me deixe em paz por um ano. Depois de um ano pode vir buscar-me. Eu ainda quero ficar por aqui um pouco mais. 

Nesse momento Jack pensou que, se dentro de um ano ele se tornasse um homem bom, o diabo não iria querer levá-lo. O Diabo, porém, tinha uma norma que não deixava de seguir: quem fizesse um pacto com ele tinha que cumprir. Muito esperto, o diabo perguntou a Jack: 

̶ Quer dizer que se eu o deixar em paz por um ano, quando eu voltar para o levar, você promete que vai comigo sem reclamar? 

̶  Prometo. – Disse Jack. 

O Diabo tornou a perguntar: 

̶  Quer dizer que você está a fazer um pacto comigo de que se eu o deixar em paz por um ano você vai comigo quando eu o vier buscar? 

̶   Sim. é isso mesmo que eu estou a dizer. 

O Diabo deu um risinho de canto de boca e respondeu a Jack: 

̶   Pois então, pacto feito! 

Jack respirou aliviado. Tirou a moeda da carteira e colocou-a de volta ao tampo da mesa. O diabo voltou à sua forma e falou: 

̶  Pacto feito, Jack! Daqui a um ano, no dia 31 de outubro, eu volto para o levar. 

E assim falando, desapareceu numa nuvem de fumo deixando um enorme cheiro de enxofre no ar. 

Jack respirou aliviado. Ele não sabia que um pacto feito com o diabo não podia ser desfeito. Mesmo assim, tomou a decisão de ser uma pessoa melhor. Pagou a conta e saiu da taberna em direção a sua casa. 

A partir daquele dia Jack resolveu mudar seu modo de agir e começar a tratar bem a esposa e os filhos, passou a ir à igreja e até mesmo a fazer caridade. 

No entanto, ao fim de algum tempo, não estava satisfeito com sua nova vida. Afinal, ele gostava mesmo era de ser malvado, por isso a mudança não durou muito tempo! Um belo dia esqueceu-se do pacto que tinha feito com o diabo e voltou a ser uma pessoa ruim. 

Chegou novamente o dia 31 de outubro. 

Jack estava de regresso a casa, depois de uma noite de farra, quando o Diabo apareceu. Apanhou um susto, mas esperto, fez de conta que não se assustou. 

̶ Bem vindo, Diabo, como demorou! 

O Diabo espantou-se com a atitude de Jack: 

̶  Não me diga que estava ansioso que eu chegasse... – Disse desconfiado. 

Jack apressou-se a explicar: 

̶  Pois é, estava sim... É que a semana passada, quando vi essa macieira carregada, fiquei a pensar em como deve ser bom assar maçãs lá no braseiro da sua casa... 

O Diabo sorriu... Olhou a macieira e pensou que seria uma novidade no inferno... Chegou até a sentir o cheiro das maçãs assadas... Quando Jack viu o olhar sonhador dele, e a sua língua a passar sobre os lábios, lambendo-os, viu que o ele iria cair na sua conversa. Colocou o seu plano em ação: 

̶ É, seria bom... Pena que não vai poder ser... – Jack falou como quem estava pensativo, meio lamentando... e suspirou dizendo rápido: 

̶ Bem, estou pronto, Diabo. Pode-me levar. 

O diabo espantou-se com a pressa e perguntou: 

̶  E as maçãs assadas? 

Jack viu que o seu plano estava a dar certo. Respondeu, olhando a copa da macieira carregada, como quem estava desanimado e resignado: 

̶  Deixa para lá... Não vai dar certo mesmo... 

̶  Por que não vai dar? – Perguntou o Diabo mais curioso ainda. 

̶ Ora, eu não vou poder colher maçãs, pois não sei subir à macieira e você, com certeza, sendo o rei dos infernos, não vai querer subir a essa árvore para colher maçãs como um empregado qualquer. Portanto, vamos embora e que as maçãs fiquem aí. 

Desta forma, Jack convenceu o Diabo a pegar umas maçãs da árvore para levar para assar no inferno. Quando o diabo subiu no primeiro galho, Jack tirou um canivete do seu bolso e desenhou uma cruz no tronco. Assim o Diabo ficou preso na árvore e não pode mais descer. Desesperado começou a implorar a Jack que o tirasse dali. Mas este retorquiu dizendo que ainda era muito cedo para morrer. O Diabo, então, promete partir por mais dez anos. 

Jack não aceitou a proposta. O Diabo então perguntou-lhe: 

- O que, então, você quer para me tirar daqui? 

Jack sorriu, maravilhado. Ele podia pedir tudo ao Diabo naquele momento... 

̶  Eu tiro você daí se você prometer fazer de mim um homem muito rico e que nunca mais virá para me aborrecer. 


- Está bem, - disse o Diabo já a pensar em ir embora sem atender ao pedido de Jack, mas este lembrou-se das palavras dos pactos. O Diabo não disse "Pacto feito" disse "Está bem" e ele sabia que bem, Diabo não faz. 


̶ Está bem, não. Quero saber se o Pacto está feito. Como é Diabo... Pacto Feito? 

O Diabo perdeu a esperança de enganar Jack. Poderia até tentar outros truques, mas a cruz que tinha na árvore já o estava transformar em árvore para sempre. Se demorasse mais um pouco nunca mais ele seria o Diabo outra vez. Não lhe restou outra alternativa senão aceitar o pacto.

̶  Pacto feito! Pacto feito! Tire-me daqui! 

Jack libertou-o. Assim que se viu livre, o Diabo, deu a Jack o prometido e foi-se embora danado da vida por ter-se deixado enganar mais uma vez. Jurou, no entanto, que um dia Jack pagaria por ter gozado com ele. 

O tempo foi passando e Jack ficou velho. Certo dia ele apanhou uma gripe muito forte e como continuava a ser uma pessoa muito malvada, não achou quem quisesse cuidar dele. Resultado: Jack foi piorando... Piorando... Até que um dia ele morreu. 

A sua alma saiu do corpo e voou até a porta do Céu. Quando chegou lá, Deus disse-lhe que não podia ficar no céu, pois lá só podia entrar quem tivesse sido uma boa pessoa na Terra. Jack tentou até enganar Deus, mas acontece que Deus sabe tudo o que se passa no coração do homem e também na sua mente e assim, Jack não conseguiu entrar no Céu. 

Sem outra alternativa, ele foi para o inferno. Mas o Diabo quando o viu, disse-lhe: 

̶ Ah, não! Aqui você não entra. Você enganou-me duas vezes; não vai enganar-me pela terceira vez. Pode ir embora daqui. 

Jack olhou em volta e não viu nada. Tudo era apenas uma enorme escuridão. Ficou apavorado. O inferno era quente, mas ele pelo menos já conhecia o Diabo... Se nem o Diabo o queria, o que iria fazer? Começou a chorar. Para sua surpresa, o Diabo deu-lhe uma brasa dizendo: 

̶ Não sou tão ruim como você, Jack. Tome essa brasa em consideração aos divertimentos que você me proporcionou quando o acompanhei na Terra através do meu fogo mágico. Que ela possa iluminar os seus caminhos quando caminhar pelo limbo, rá, rá, rá, rá... Tome cuidado, pois se ela se apagar você ficará no escuro para sempre. – E assim dizendo, deu mais uma gargalhada infernal e fechou a porta do inferno. 

Jack olhou a brasa e viu que ela começava a apagar-se. Desesperado, olhou em volta e viu um nabo oco no chão. Apanhou o nabo e colocou a brasa dentro dele para que durasse mais e saiu perambulando pela escuridão. 

Andou, andou e muito tempo se passou até que um dia ele encontrou uma bruxa que estava morrendo de frio. 

A bruxa carregava uma abóbora. A sua intensão era plantar as sementes pois sabia que as abóboras simbolizavam fertilidade e sabedoria, mas quando passou pelo limbo, não suportou o frio. Para sorte dela, nesse dia encontrou que se sentia muito só … 

Ele sentou-se perto da bruxa, colocou as mãos dela em volta do nabo onde estava a brasa e ajudou-a a se aquecer-se com o calor que emanava dele. 

A bruxa recuperou as suas forças e para agradecer a Jack pegou na sua abóbora, retirou os caroços, desenhou olhos, nariz e uma boca sorridente. Em seguida fez um corte nesses desenhos de forma a abrir buracos como se a abóbora fosse uma cara. Colocou a brasa dentro dela, recolocou a tampa por onde tinha retirado as sementes, amarrou uma corda de um lado e outro da abóbora, de forma a fazer uma alça, e entregou-a a Jack dizendo-lhe: 

̶  Não o posso tirar daqui, pois você contrariou até o próprio Diabo e não chatear alguém tão poderoso quanto ele. Verifiquei que foi o próprio diabo quem lhe deu essa brasa... Por isso coloquei-a dentro desta abóbora onde esculpi esta cara. Aqui dentro a brasa não vai apagar-se nunca mais e quando chegar o dia 31 de outubro, único dia em que os mortos poderão visitar a Terra, você coloca a abóbora na cabeça e usa essas correntes com essa lanterna. A abóbora vai esconde-lo e o fogo não o vai queimar pois nesse dia, assim que você colocar a abóbora na cabeça, ele vai para dentro da lanterna que as correntes têm na ponta. Assim disfarçado, o diabo não vai saber que você saiu do Limbo. Agora não se esqueça, você só poderá fazer essa transformação e ir à Terra no dia 31 de outubro e tem de voltar antes do nascer do sol. 

Depois desta conversa a bruxa montou na sua vassoura e foi embora. Jack ficou lá, caminhando na escuridão que agora estava bem mais iluminada, graças à abóbora da bruxa. 

Nesse dia ele decidiu que todo dia 31 de outubro iria à Terra e quando visitasse as pessoas ele lhes perguntaria: 

̶  Durante o ano você fez doces, ou fez travessuras?






Espero que tenham gostado e vocês durante o ano : doçuras ou travessuras ?

Podem encontrar esta história no meu blogue http://folhasdomundo.blogspot.pt/

A Caminhante

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Romances Históricos a 40% - Divulgação SDE






Aproveitem que há aqui livros fantásticos, não posso deixar de recomendar as aventuras de Flashman e claro os livros da serie Azteca, melhor romance histórico que li até hoje publicado pela Editora.

Os livros das Cronicas dos Senhores da Guerra do Bernard Cornwell, A Companhia do Diabo do Davis Liss e fico por aqui, mas é de aproveitar :)

Podem comprovar que a Editora é uma das melhores dentro deste género literário, tenho vindo a alertar ao longo do tempo, arrisquem a comprar qualquer um dos livros que recomendei e serão recompensados :)

Podem ver a promoção aqui


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Os Extremos de Christopher Priest



Opinião:


Sem duvida que são determinantes as recomendações que os nossos amigos nos vão dando, caso contrário muitos livros passar-nos-iam completamente ao lado! Neste caso, até me foi oferecido (mais um!) e estamos, seguramente, na presença de um excelente romance, um policial intenso, dramático, um livro que mexe psicologicamente com a nossa mente.

O livro conta-nos a deslocação da agente do FBI, Teresa, a terras britânicas, à pequena vila de Bulverton, onde há um ano atrás ocorreu um violento crime e onde a ocorrência de várias mortes deixou os habitantes sobreviventes perturbados. Mas o que leva a agente a esse local é o facto de, na mesma data e do outro lado do atlântico, o seu marido foi morto por um serial killer. O que estará por trás desta coincidência? Haverá alguma ligação com a morte do seu marido?

É neste contexto que a nossa agente vai à procura de respostas e, não conseguindo quaisquer pistas para este mistério, recorre ao mundo de cenários de realidade virtual, algo que a nossa agente já utilizava como agente do FBI, criados por uma empresa que fornece entretenimento sob a forma de realidades virtuais criadas com base em acontecimentos reais, mas que deste lado do atlântico o público em geral tem acesso.

Dividido em real e virtual, ficamos, por um lado, fascinados com as possibilidades que o virtual proporciona e que, de forma subtil, nos vai dando pistas para o que poderá ter acontecido. Por outro lado, ficamos fascinados com o real, onde vamos tentando perceber o que poderá estar por trás destes crimes. Conseguirá a nossa agente desvendar o enigma? Conseguirá o leitor prever o final?

Um livro muito bom, complexo e que merece ser lido uma segunda vez, sobretudo para perceber a mestria com que todo o cenário é preparado. Sem dúvida que quero ler mais livros deste escritor, em especial "Prestigio", um dos seus livros mais elogiados.

"Christopher Priest escreveu um romance hipnótico e extraordinariamente poderoso sobre a capacidade humana para a violência, e como a sociedade está disposta a comercializa-la como qualquer outro produto de entretimento"


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Surpresa - "A Espada Que Sangra"



Olá,

Bem, este livro tem sido devidamente divulgado aqui no blog e acabo de ser surpreendido com a vinda de um segundo livro do Nuno Ferreira! Não sei se foi lapso da Editora, mas, seja como for, vou oferecer o livro a um seguidor do blog.

Podia realizar um passatempo ou sorteio, mas não tenho esse habito, até porque, confesso, sou preguiçoso e não estou numa “onda” de andar a aumentar o número de seguidores do blog, estou plenamente satisfeito e agradecido aos existentes :)

 E o seguidor que decidi brindar com este excelente livro é a amiga Lince, Luísa Bernardino, alguém que, mesmo estando tão longe do seu pequeno Portugal, não desiste de realizar o seu sonho de construir a sua biblioteca, pagando, em vários casos, mais de portes do que o preço do próprio livro!




terça-feira, 21 de outubro de 2014

Entrevista a Nuno Ferreira, autor de "Espada que Sangra"

Nova saga fantástica chega às prateleiras

“Espada que Sangra” é o primeiro romance de fantasia de Nuno Ferreira, 29 anos, natural de Vila Nova da Barquinha. Passado num mundo fantástico e violento, de civilizações e personagens complexas, promete satisfazer os fãs deste género. O Delícias à Lareira manteve-se à conversa com Nuno Ferreira para levantar a ponta do véu sobre o livro – e quem o escreveu.









- “Espada que Sangra” é o teu primeiro romance, e está inserido no género fantástico. Que tipo de estória os leitores vão encontrar?

Decididamente, não vão encontrar uma estória para embalar bebés. :D É verdade, “Espada Que Sangra” é a obra que marca a minha estreia na ficção, e logo neste género tão controverso quanto é o fantástico. Costumo usar o slogan “Arrisca-te a entrar no sangrento mundo de Zallar, atreve-te a sobreviver, apaixona-te”, e é mesmo isto. É um mundo extremamente violento, com cabeças e membros de personagens decepados, com arenas sangrentas onde pumas e panteras divertem a população enquanto estraçalham escravos, e onde violações e assassinatos são o prato do dia. É a estória dos reis de duas cidades-estado, o Rei Hymadher e a Rainha Ezzila, que tiveram um grande romance na juventude e tiveram que se separar pelas contingências da vida. É a estória de um mundo em que não se pode confiar em ninguém, de um mundo afectado por uma grande ameaça externa que é a sofisticação mental e tecnológica das criaturas dos desertos que ameaçam as fronteiras. É neste contexto tão violento que o leitor vai poder conhecer este mundo e torcer pelos seus personagens predilectos. Porque sim, numa envolvente tão cruel, há alma e esperança, e é isso que faz o leitor não desgrudar de Zallar.  Posso dizer que esta saga está para os seguidores de Guerra dos Tronos ou Crónicas Saxónicas como uma banana para um chimpanzé. :-) Pode não lhe matar a fome, mas satisfaz.

- E que género de personagens povoam o livro?

Personagens complexos, sem dúvida. Tens um rei com tanto de íntegro quanto de inseguro, uma rainha tão bondosa quanto por vezes cruel, uma mulher devastada por um passado horroroso, na corda bamba entre o certo e o errado, tens um vilão com uma visão inigualável, amargurado pelas injustiças de que foi alvo, um homem obstinado em fazer jus ao seu nome e em honrar os seus antepassados, e até um menino que sofre pelas humilhações a que foi submetido. No fundo, todos eles viram a sua personalidade moldada pelo passado que viveram e isso terá, irremediavelmente, consequências não só para o seu futuro, como para o futuro deste mundo fantástico.

- Como surgiu a ideia inicial de “Espada que Sangra”?

Nem sei bem, qualquer coisa que nasceu na minha cabeça quando estava a ler um livro do Steven Saylor, andava a ver a primeira temporada de Guerra dos Tronos na TV e tinha visto um filme do Conan, daqueles antigos do Arnold Schwargeneger. A história que nasceu nessa altura está muito longe da história que apresento no meu livro, mas posso dizer que o esqueleto da obra nasceu aí, e os primeiros rascunhos de capítulos da Ezzila foram mesmo escritos nessa época. Acabei por desistir, mas mais tarde voltei a pegar a sério nesse meu esboço e o que tinha pensado para um livro, acabei por perceber, tinha de ser desenvolvido em três volumes. Os dois últimos – dos cinco que pretendo escrever – servirão para poder concluir a saga sem precipitações, para que não aconteça tudo repentinamente.

- Conseguimos facilmente perceber que “Espada que Sangra” está inserido num outro mundo, criado pelo Nuno. O que o inspirou a criá-lo? Baseou-se em civilizações antigas?

“Espada que Sangra” é o primeiro volume de Histórias Vermelhas de Zallar, e é no mundo de Zallar que ele se passa. Em primeiro lugar, para escrever um livro de fantasia, tinha que criar um mundo, o que é um processo sempre moroso e complicado para qualquer escritor. Quis afastar-me desse mundo medieval tão presente no género, mas é um tipo de mundo tão enraizado em todos os amantes de fantástico que há traços que indubitavelmente estão lá. Namantisqua foi uma nação que eu “roubei” a uma história de fantasia que tinha escrito na minha adolescência, o nome derivava de um feiticeiro que ali morava chamado Namantis. Temos as Terras Altas com as suas montanhas espinhosas, habitada por monstros Peludos e piratas sem escrúpulos, as Terras Quentes inspiradas claramente na região da Amazónia, na América Central e na Babilónia, nas civilizações incas, maias, astecas e também na suméria e acadiana, com o seu toque de sobrenatural – ali os seus personagens montam cavalos de fogo – e claro, Terra Parda, onde se passa este primeiro volume, é um local de desertos e savanas, onde existem cidades-estado como na Grécia Antiga. Tens Hyldegard mais inspirada na Pérsia e na Escandinávia, as Cordilheiras Bravas como uma alusão à Gália do período romano, a Welçantiah e Somoros com tanto de Grécia como de Roma, e Ul’Uljktr, a Torre das Harpas, com tanto de Antigo Egipto quanto de elfos do mundo criado por Tolkien. Mas não posso dizer que este povo foi inspirado na civilização x e aquele na y, existe uma grande mistura de traços culturais que faz com que estas civilizações tenham ganho a sua própria identidade – já viste algum centurião romano a usar uma espingarda? Aposto que não. Não é a mais original das obras de fantasia, mas julgo ter conseguido aquilo que me competia, e atingir aquilo a que me propus.

- Como foi o processo de publicação do livro?

Simples: a editora aceitou de imediato publicar o meu livro, estudei as condições que me ofereciam, calendarizamos a assinatura do contrato, elegi a capa que mais me agradou e a obra foi para a gráfica. Daí até ao lançamento foi combinar pormenores do mesmo, negociar o local, preparar tudo. Quando cheguei de férias já tinha a casa cheia de caixas de papelão com exemplares de “Espada Que Sangra”, que foi uma sensação única. Daí até ao dia do lançamento foi um saltinho, e também aí tive o apoio de um representante da editora.

- É uma vitória ver “Espada que Sangra” publicado?

Acima de tudo, acho que fiz justiça a mim mesmo. Há muito que escrevia e nunca tinha dado a oportunidade a mim mesmo de tentar publicar algo. Atrevi-me, e a sensação é a de um sonho realizado.

- Que “feedback” tem recebido dos leitores?

O feedback não tem sido muito, penso que pelo menos 20, 30 pessoas já me deram a sua opinião, e dessas, talvez metade tenha já acabado a sua leitura. A opinião unânime é que o livro foi uma surpresa, toda a gente até agora adorou e isso realiza-me bastante, mas também sei que irão aparecer opiniões menos boas, e isso é algo que não me desmoraliza, antes ajuda a fazer cada vez mais e melhor.

- Ser escritor era uma ambição do Nuno? Há quanto tempo é que escreve?

É um sonho de anos. Já desde os 15, 16 anos que escrevo fantasia. Algo muito amador, claro, o talento é algo muito esparso se não for trabalhado e treinado. Comecei a escrever fantasia muito na onda dos jogos de cartas Magic The Gathering, e depois na altura em que saiu o primeiro filme do Senhor dos Anéis, uma época em que eu era apaixonado pelas histórias do Rei Artur e os Cavaleiros da Távola Redonda, histórias que descobria na Biblioteca da escola. Nessa fase de encantamento, comecei a ler livros como As Crónicas de Allaryia ou Eragon, que, goste-se ou não, foram sagas que catapultaram muitos jovens para o gosto da literatura fantástica em Portugal. Certo é que também eu cresci e acabei por não acabar nem uma nem outra saga – algo que espero ainda vir a fazê-lo algum dia. Posso dizer que durante muito tempo escrevi outro tipo de literatura – policiais, thrillers, livros de mistério, algo que nunca senti que merecesse ser editado – e só mesmo com esta saga, e também com outra qualidade enquanto escritor, me decidi a voltar a mergulhar no fantástico. E que mergulho. No entanto, ainda sou um mero iniciante, e sinto que tenho ainda uma grande margem de progressão.

- Quais são as suas influências?

George R. R. Martin, Bernard Cornwell, Ken Follett, Dan Brown, Stephen King e Agatha Christie. Estes seis nomes são para mim o top de escritores mundiais, sou um grande fã, embora o mundo que apresento em “Espada Que Sangra” esteja evidentemente mais ligado ao de Martin, e de modo mais ténue, aos mundos criados por Robert E. Howard e Edgar Rice Burroughs.

- Vamos mudar agora um pouco o foco da nossa conversa. Fale-nos um pouco de si. Quem é o Nuno Ferreira?

O Nuno Ferreira é um homem simples que não gosta de muitas confusões, pouco falador, que adora ter tempo para si próprio e para reflectir, que aprecia mais a qualidade do que a quantidade dos amigos. Embora prefira o mundo das letras – onde me sinto na minha praia – do que o mundo da voz (sou um tímido crónico), sinto-me imensamente realizado em cima de um palco como ator ou a apresentar um espectáculo como tantas vezes o faço, transmite-me paz sentir as pessoas em silêncio, com os olhos pousados sobre mim. Mas acima de tudo, sou uma pessoa que gosta de estar bem comigo e com os outros.

- Tem algum conselho ou sugestão para os jovens aspirantes a escritores que ainda guardam os manuscritos na gaveta?

Aconselho a que não parem de escrever. Ainda que vos digam que aquilo que escrevem não vale nada, continuem, treinem, e acima de tudo leiam muito, isto é, se for mesmo isso que desejam. E procurem opiniões, mostrem os vossos textos a outras pessoas. Afastem-se do estereótipo. Lá por gostarem muito de uma série literária ou de um filme, não têm de escrever a mesma história, as pessoas não querem ver duas vezes a mesma coisa, e acima de tudo, não querem ver a mesma coisa com menos qualidade. Sejam teimosos, perspicazes e, acima de tudo, não tentem imitar ninguém. Dêem a vossa alma àquilo que escrevem. Se acham que já preenchem todos estes requisitos, então aconselhem-se com alguém que esteja por dentro do mundo editorial, essa pessoa há-de gostar de ter sido escolhida, e mais contente ficará em ter o seu papel no desenvolvimento de uma carreira.

Um muito obrigada ao Nuno Ferreira pela disponibilidade e à Chiado Editora!

Jornalista: Susana Serra 
http://paginasdeviagem.blogspot.pt

domingo, 19 de outubro de 2014

Opinião - Lisboa no Ano 2000 (Antologia)




Quando na revista Bang! n.º 10 apareceu o desafio para esta antologia e depois de ter lido várias vezes os pressupostos em que assenta este universo Electropunk, a única coisa que me vinha à mente era: "Isto é estúpido!". Não parava de pensar em como já vivemos num mundo movido a electricidade, os electrodoméstico, os comboios até os carro já estão a caminhar a passos largos nesse sentido, portanto onde estava a inovação? Mas lá resfriei o meu negativismos (e falta de imaginação) e decidi dar uma oportunidade a esta antologia, até porque ao leme vai o João Barreiros e isso para mim é mais que suficiente para lhe dar o beneficio da duvida, e claro que gosto de falar, bem ou mal, com propriedade, e claro que não fiquei nada desiludido com o resultado final, mas vamos por partes.



Prólogo - (Acho que) Percebo o que o João Barreiros tentou fazer aqui: unificar este universo e embora engraçado o modo como foi escrito continua-me a parecer estranho e sendo totalmente sincero desnecessário.


O Turno da Noite de João Barreiros - Quando li "O Turno da Noite" na revista Bang! n.º10 e novamente nesta antologia "assustei-me". Parecia a escrita do João Barreiros, as temáticas são as típicas do João Barreiros, mas há ali um travo a "metafisica", para não dizer fantasia (heresia!!!) que o meu paladar estranhou logo. Mas passado o "choque" temos mais uma excelente texto bem à maneira do Barreiros e que é uma delicia para quem, como eu, aprecia o seu trabalho.


Venha a Mim o Nosso Reino de Ricardo Correia - Gostei bastante do inicio, mas a partir dai foi sempre a descer. Temos um espécie bispo da IRUD lá do sitio, feiras-ninjas e um robô gigante, mas de alguma forma não vi o puzzle encaixar.  Por exemplo achei as freiras-ninjas um toque interessante e com o seu quê de cómico, mas aparecem ali quase "caídas do céu". 


Os Filhos do Fogo de Jorge Palitos - Um conto interessante que me pareceu ter alguns elementos (inspiração) do livro "O Prestigio" de Christopher Priest (e não digo isto com conotações negativas). A imortalidade não é propriamente a temática, mas sim o Carpe Diem e uma experiência que corre muito mal. Gostei quer da temática quer do tom embora ache que devia ter sido mais "polido".


Dedos de AMP Rodriguez - Um conto com um humor subtil e muita critica social devidamente embrulhados numa investigação de estranhos acidentes de trabalho. Gostei bastante do personagem principal, que é também narrador e da sua maneira de ver o mundo, ou neste caso a resignação a que se vota.


As Duas Caras de António de Carlos Eduardo Silva - Um conto de espiões como se estivéssemos na Segunda Grande Guerra, com agentes duplos (ou mais) ao serviço quer de Portugal, quer da Germânia, e um final muito bom, alias todo o conto está bem escrito e no "tom" certo. 


Electro-dependência de Ana C. Nunes - O uso da electricidade como uma droga foi uma ideia bastante interessante, mais ainda a de utilizar um humano com poderes e que também é capaz de a "injectar", embora não seja o único método. Um conto cheio de ideias interessantes e bem aproveitadas pela seu autora que nos dá um final muito bom.


Nanoamour de Ricardo Cruz Ortigão - Um autor que afinal são dois e um conto que fala de amor e tal como o anterior dá uma nova roupagens ao algo bem antigo, neste caso as poções de amor, mas claro que devidamente adaptadas a um mundo onde a electricidade é rainha e senhora. Um final muito bom e que me deixou com um sorriso nos lábios.


Energia das Almas de João Ventura - O João Ventura é um escritor já com calo e isso está bem patente neste conto. A ideia base deste conto é bastante interessante e tem por base o trabalho do medico Duncan MacDougall sobre o peso das almas devidamente "misturado" com uma das premissas do conto "O Turno da Noite" do João Barreiros, a dos seus mortos que se alimentam do vivos. Ainda consegue lá introduzir o trabalho de Albert Einstien. 


Fuga de Joel Pulga - Um conto interessante, mas mais pela critica que faz ao mundo literário actual em que apenas se publica mais do mesmo ao sabor das modas que vão aparecendo. O personagem principal é Tércio um programador que tem um trabalho rotineiro que mata qualquer iniciativa e criatividade e que sonha em ser escritor. O final reflecte o nosso estado literário actual.


Tratado das Paixões Mecânica de João Barreiros - Mais um magnifico conto do João Barreiros em que ele regressa a alguns dos seus temas por excelência, brinquedos, a invasão da (Fortaleza) Europa por África, neste caso uma autofábrica que quer assentar arrais na Caparica. Um conto "à" Barreiros e o meu preferido dos três aqui apresentados. Um final que me agradou bastante pelo humor.


O Obus de Newton de Telmo Marçal - Já conhecia os trabalhos do Telmo Marçal publicados na internet e claro o seu "agrupar" no excelente livro que é "As Atribulações de Jacques Bonhomme" (e que por estes dias está estupidamente barato portanto aproveitem), mas este conto foi uma surpresa. O tom do conto não condiz com a imagem que tenho do autor. Longe de ser algo que me tenha degradado foi com muito gosto que descobri esta nova faceta do autor. Com um prosa muito "literária" e uma história complexa lá fui desbravando as páginas. Para uma antologia que ser queria ambientada em Lisboa este conto passa lá muito pouco tempo, mas isso pouco interessa quando somos confrontados com a sua excelsa qualidade.


Ex-Machina de Michael Silva - A electroesfera esconde coisas para além da imaginação do homem e neste conto vamos descobrir o quanto elas podem ser assustadoras. Um conto com ideias interessantes, nota-se ali a "mãozinha" de H. P. Lovecraft, e uma escrita com bons apontamentos de humor.


A Rainha de Pedro Vicente  Pedroso - Se existe animal que está ligado à electricidade é a enguia, a eléctrica claro e neste conto temos uma espécie de Capitão Ahab à procura da sua Moby Dick em forma não de baleia, mas de enguia eléctrica nas turvas águas do Tejo. Uma ideia interessante e bem desenvolvida pelo Pedro Vicente Pedroso. 


Taxidermia de Guilherme Trindade - É um dos contos que mais me surpreendeu nesta antologia porque não fazia ideia do que esperar mesmo até ao final e que final. Existem historia que por muito misteriosas que sejam nós vamos conseguindo descobrir o que se passa, mas aqui não o que apenas tornou a sua leitura ainda mais interessante. Sem duvida um dos melhores contos desta antologia em todos os aspectos.


Quem Semeia no Tejo de Pedro G. P. Martins - Um conto com algumas ideia interessantes, mas que poderia ter sido mais trabalhado e alongado. É um dos poucos contos com "ligação directa" ao conto de partida / inspiração desta antologia "O Turno da Noite".


Coincidências de Pedro Afonso - Coincidências é um conto interessante que nos permite ter uma visão bastante alargada do ambiente que se vive não só em Lisboa, mas também na Europa, através da relação entre um escritor e uma estranha mulher que ele conhece em igualmente estranhas circunstancias. 


Chamem-nos Legião de João Barreiros - E para finalizar com chave de ouro a terceira parte de "O que escondem os Abismos". Uma história contada através de duas linhas narrativas que se vão inevitavelmente encontrar, quanto ao resto bastará dizer que é escrito pelo João Barreiros


Epílogo - Se achei o Prólogo desnecessário o Epílogo não podia ser diferente.  



Como em qualquer antologia a qualidade dos contos varia (muito), mas de um modo geral os trabalhos apresentados estão em bom nível. Esta antologia está cheia de ideias interessantes, como alias me fartei de escrever, algumas muito bem aproveitadas outras nem por isso, mas só o facto de os autores terem revelado essa imaginação já é prometedor desta nova geração de autores.
Outro aspecto importante está na dificuldade em manter uma coesão histórica e cronológica comum e claro que com tantos autores algumas coisas falham e temos algumas variações sobre os mesmos temas como é exemplo as varias visões sobre a família real. Não é propriamente algo mau, mas a tentativa de unir este universo feita por João Barreiros no Prólogo e o Epílogo apenas acentua o quanto estas são prescindíveis. Sou da opinião que uma introdução e quem sabe um nota final tivesse sido uma aposta melhor.
Numa nota sobre a historia desta Antologia recentemente o "Tio" Barreiros comentou no Facebook que esta ideia é bem mais antiga do que eu tinha imaginado e que já vem da altura em que a colecção de FC da Caminho, a dos livrinhos azuis, mas os seus camaradas Portugueses (e Brasileiros) da colecção não olharam com muito bons olhos este universo partilhado. Mau para eles, mas bom para nós e para toda esta nova geração de autores que assim puderam brilhar na electroesfera. 



Por fim gostava de deixar aqui um pedido de desculpas em primeiro ao meu bom amigo Fiacha, que tão amavelmente me deu este livro e que apenas pediu em troca que eu desse a minha opinião, mas que foi algo que demorou a fazer, aos autores por ter escrito um opinião demasiado tempo depois de lido os mesmo, o que não me permitiu ter os pormenores tão "frescos" quanto o desejável (embora tivesse tirado algumas notas e relido na diagonal quando necessário) e claro ao leitores porque podia ter feito um trabalho melhor. A todos a minhas desculpas.



Título - Lisboa no Ano 2000
Autores - João Barreiros, Ricardo Correia, Jorge Palitos, AMP Rodriguez, Carlos Eduardo Silva, Ana C. Nunes, Ricardo Cruz Ortigão, João Ventura, Joel Pulga, Telmo Marçal, Michael Silva, Pedro Vicente  Pedroso, Guilherme Trindade, Pedro G. P. Martins e Pedro Afonso.
Editora - Saída de Emergência
Colecção - Bang!

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Espada Que Sangra de Nuno Ferreira


Sinopse:

A palavra dos homens teve muito crédito, em tempos idos. Mas quando a soberba e a sede de poder e glória moldam o comportamento humano, a mentira torna-se um instrumento para pentear as suas próprias fraquezas." Espada Que Sangra é o primeiro volume de Histórias Vermelhas de Zallar, um delicioso cocktail de fantasia, intriga, mistério, suspense, erotismo, aventura e ação, passado num mundo fantástico de civilizações que nos apaixonam a cada página. Zallar é um mundo complexo, onde três continentes lutam arduamente pela sua sobrevivência. No Velho Continente existe uma terra almejada há milénios, desde os tempos em que os medonhos Homens Demónio dominavam a região: Terra Parda, onde as cidades-estado são chamadas de espadas e um minério conhecido por tormento negro tornou possível a existência de armas de fogo. Hoje, são os descendentes dos extintos Homens Demónio quem ameaça as fronteiras desta terra próspera em vegetação, savanas e desertos - os malévolos mahlan. A Guerra Mahlan está prestes a atingir o seu ápice, e agora, tudo pode acontecer. Mas Lazard Ezzila e Ameril Hymadher, reis das principais fortalezas de Terra Parda que viveram um intenso romance na sua juventude, vão perceber de uma forma perturbadoramente selvagem que os seus maiores inimigos podem viver consigo ou partilharem dos seus próprios lençóis.

Opinião:

De um modo geral, todos nós gostamos de chegar ao final de um livro e ficar plenamente satisfeitos, independentemente do género literário em que esteja escrito. Afinal, um bom livro será sempre um bom livro e este superou as minhas expectativas e, ainda por cima, escrito num género que é o meu favorito: a fantasia.

Não que seja um grande entendido neste género, mas, tendo já lido alguns livros, posso dizer que são poucos os livros que tenham tido um início de saga tão bom como este, à exceção de "Guerra dos Tronos", de George Martin, "Duna", de Frank Herbert, ou "As Mentiras de Locke Lamora", de Scott Lynch. Mas o que torna este feito ainda mais incrível é o facto de "Espada Que Sangra" ser o primeiro livro do escritor!

Não que o Nuno necessite de quaisquer comparações, mas, para que possam perceber melhor, existem semelhanças com alguns dos meus escritores preferidos, como George Martin, nomeadamente ao nível do universo onde a ação decorre, que é riquíssimo e muito variado. Neste sentido, partilho um comentário que o Nuno colocou no grupo do Cantinho:


"Eu tenho sempre dificuldade em dizer em que tempo/área o meu mundo se inspira. Eu penso que é uma grande miscelânea que fez com que ele ganhasse uma própria identidade. A alusão mais clara é à Antiguidade Clássica, Grécia, Roma Antiga, mas também há traços da Inglaterra Medieval, por muito que eu evite esse estereotipo, e da Europa Renascentista, com os retratos a óleo, armas de fogo do século XVI, XVII mas ainda com muitos vestígios do Período do ouro, e há civilizações com traços mais antigos. A raça el'ak e a sua fortaleza de Torre das Harpas são claramente inspirados na civilização egípcia, mas com um toque de "não me toques que eu sou de uma raça superior e adoro a natureza" que bebi aos elfos tolkianos. As Terras Quentes, que são muito faladas mas ainda não apresentadas, são baseadas na cultura meso-americana e na suméria, e as Cordilheiras Bravas inspiradas na Gália romana. Hyldegard é mesmo a cidade-estado em que me inspirei mais na Escandinávia podes encontrar por lá tigres-dentes-de-sabre como animais de estimação, e é um pouco influenciada na mitologia nórdica, mas com símbolos egípcios. É uma grande mistura de civilizações que, para mim, faz com que Zallar tenha a sua própria identidade."


A quantidade e diversidade de personagens é algo de idêntico ao mundo de G. Martin, e o Nuno tem a capacidade de, com apenas uma pequena descrição, fazer com que fiquemos cativados por elas (quer as principais, quer as secundárias são excelentes e ocorrem com frequência flashbacks das personagens principais, o que lhes confere complexidade e, claro, consistência). Para além disso, a malha de intrigas, mistérios, crueldade e os 'jogos de trono'(que Martin desenvolve tão bem) também aqui está bem presente. Acresce que, também neste primeiro livro, temos muito poucos sinais de fantasia, que surgem de forma ténue e muito subtil.

Por outro lado, pessoalmente, também este livro me faz lembrar o escritor Bernard Cornwell: aqui, as personagens tem que ter "barba rija", sofrem para sobreviver, são cativantes, passando por demandas verdadeiramente bem descritas. Sem dúvida que um admirador de Cornwell perceberá o que quero dizer e vai adorar ler este livro.

Por último, também me remete para Robin Hobb, mais pela sua escrita elegante, muito própria e, acima tudo, com uma trama muito bem planeada.

É, assim, fácil de perceber que o livro me agradou em todas as vertentes, pelo seu enredo diversificado, personagens complexas e muito bem desenvolvidas, bem como pela qualidade da escrita...ficamos com a sensação de que o escritor apenas nos mostrou a ponta de um enorme iceberg!

No entanto, um ponto negativo: ficou, claramente, a faltar um mapa, bem como um apêndice de personagens. Tive também já a oportunidade de dizer ao próprio escritor que, pessoalmente, não gostei do capitulo que tem a ver com o surgimento dos Mahlan, embora acredite que o que esteja por trás das suas investidas ainda tem muito que se lhe contar.

Havia muito ainda por descrever... terá o escritor coragem para matar personagens chave? quais as personagens que mais gostei as que menos gostei?... E por aí fora. Seguramente que o farei à medida que surjam mais comentários ao livro.

Mas não quero terminar o comentário sem fazer um pequeno desabafo.

Já vi muitas sagas serem interrompidas a meio. Recordo-me, por exemplo, de "A Roda do Tempo", de Robert Jordan, de "Duna", de Frank Herbert, da saga de Scott Lynch (apenas publicado o primeiro volume), mas estes exemplos, embora me custe, são de escritores de renome mundial. No entanto, ver este escritor publicado na Chiado Editora (que pelo que percebo, veste a camisola e tem orgulho), editora onde um escritor tem que pagar para que se o(s) seu(s) livros sejam publicados, (atenção: nada contra, é um modelo de negócio, só adere quem assim entende, mas, naturalmente, não se olha à qualidade do que se publica), custa. Acredito que se este livro fosse assinado por algum escritor de renome seria imediatamente um best-seller, já que não fica atrás de qualquer escritor de fantasia, embora cada um possa gostar mais de um género de fantasia que outro.

Quero com isto dizer que me custa ver que o escritor está dependente das vendas. A editora fez, certamente, o seu trabalho... mas não basta :( 

Há que ler o livro e divulgá-lo! Apelo a que todos os que tenham parceria com a Chiado Editora e gostem de fantasia que o solicitem à editora. Afinal, os blogues tem um papel importante e deixar um escritor deste calibre passar ao lado é, quanto a mim, um CRIME. Mas, tenha o efeito que tiver, será sempre o escritor que terá que pagar para ter os seus livros seguintes cá fora :(

Honestamente, não percebo como não foi incluído numa coleção de fantasia, já que está a milhas de muitos escritores estrangeiros que por aí se publicam. Para terem uma ideia, para mim e se continuar assim, será ainda mais completo que George Martin. Eu sei que gostos não se discutem mas é o que penso! Até porque já tive uma breve ideia do que a vem e tenho a certeza absoluta que o melhor está para vir! Devidamente apoiado e teremos um grande nome mundial no género da fantasia.

Ousem em ler este escritor! ainda vão agradecer a sugestão do corvo ;)

Aproveito para desejar as maiores felicidades ao Nuno Ferreira (uma pessoa impecável) e, claro, caso pretendam colocar algumas questões ao escritor tenho a certeza que estará disponível.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Espada que Sangra de Nuno Ferreira - Divulgação



Sinopse:

A palavra dos homens teve muito crédito, em tempos idos. Mas quando a soberba e a sede de poder e glória moldam o comportamento humano, a mentira torna-se um instrumento para pentear as suas próprias fraquezas." Espada Que Sangra é o primeiro volume de Histórias Vermelhas de Zallar, um delicioso cocktail de fantasia, intriga, mistério, suspense, erotismo, aventura e ação, passado num mundo fantástico de civilizações que nos apaixonam a cada página. Zallar é um mundo complexo, onde três continentes lutam arduamente pela sua sobrevivência. No Velho Continente existe uma terra almejada há milénios, desde os tempos em que os medonhos Homens Demónio dominavam a região: Terra Parda, onde as cidades-estado são chamadas de espadas e um minério conhecido por tormento negro tornou possível a existência de armas de fogo. Hoje, são os descendentes dos extintos Homens Demónio quem ameaça as fronteiras desta terra próspera em vegetação, savanas e desertos - os malévolos mahlan. A Guerra Mahlan está prestes a atingir o seu ápice, e agora, tudo pode acontecer. Mas Lazard Ezzila e Ameril Hymadher, reis das principais fortalezas de Terra Parda que viveram um intenso romance na sua juventude, vão perceber de uma forma perturbadoramente selvagem que os seus maiores inimigos podem viver consigo ou partilharem dos seus próprios lençóis.


Pequeno comentário:

Vou a meio do livro e só posso dizer que é do melhor que já li a nível de Fantasia (algo que apenas aparece de forma muito subtil), tem de George Martin, tem de Bernard Cornwell e mesmo de Robin Hobb, mas isso explicarei depois quando efetuar o comentário final.

Que grande surpresa ;)

Podem ler um pequeno excerto disponibilizado pelo autor aqui

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Comandante Serralves - Despojos de Guerra


Esta é a Era da Aliança Humana. Uma nova ordem Mundial forjada a sangue e fogo pela necessidade de unir os povos da Terra para derrotar uma invasão alienígena.

Não, esta não é a estória dessa guerra. Essa já nos foi contada e recontada pela FC desde os seus primórdios. Esta é a estória do que veio depois.

São tempos de paz, união, desenvolvimento, abundância e colonização do sistema solar. No entanto, tudo tem um preço e nem todos estão dispostos a aceitar o sacrifício da liberdade e da cultura de cada povo em troco deste futuro unido sobre uma única égide. E ninguém se rebela mais que o vulpino, grandíloquo e questionável Comandante Serralves. Armado com umas quantas “prendas” deixadas pelos derrotados invasores e na companhia de um caótico imbróglio de aliados, o perigoso rebelde garantirá que o poder estabelecido nunca tenha uma noite de sono descansada.

Na tradição das clássicas space operas, “Comandante Serralves – Despojos de Guerra” é um universo aberto escrito a seis mãos. O que começou como um modesto conto e um protagonista-conceito simples, floresceu em complexidade e novas perspectivas ao ser expostos aos talentos (e consideráveis neuroses) de um grupo de jovens escritores.

Uma aventura espacial excitante e intrigante que promete apelar a todos os leitores.

Episódios contidos no livro:

Métodos de Evasão - Carlos Silva - O Comandante foi capturado e levado para o coração do império, onde longe da sua tripulação e da sua nave, está à mercê dos seus inimigos. Porém, como em tudo em Serralves, nem tudo é o que parece, e ele tem uma surpresa guardada para quem o interroga.

Sinais - Vítor Frazão -Das minas marcianas às selvas do Vietname há segredos que podem derrubar a Aliança. Infelizmente, na ambição para descobri-los, Serralves por vezes esquece-se que também tem muito a esconder…

Dogson – Inês Montenegro – Na juventude, Dodgson disponibilizara o corpo para se tornar um Serralves em potencial. Os anos e a experiência, no entanto, alteraram-lhe a vontade e os ideais, fazendo-o temer pelo destino que lhe poderá levar a existência repentinamente e sem aviso…

Despojos de Guerra - Carlos Silva - Na confusão de um contra-ataque a uma tripulação de piratas espaciais, os olhos de Serralves reconhecem uma arma alienígena.
De onde veio ela? Haverá mais? Quem mais tem conhecimento da sua existência?

Das Eigentum - Ana Filipa Ferreira - Um pahoehoente resiste na Terra. Para nós, estes aliens quase destruíram o nosso planeta, contudo o Comandante Serralves irá descobrir um outro lado do inimigo.

A Guerra Esquecida - Joel Puga – Após uma batalha espacial, Serralves acorda, com um novo corpo, num local gelado e desolado. Não se trata, porém, de um planeta distante, mas de um ponto remoto da Terra onde fará descobertas que mudarão para sempre os livros de história.

Static Falls - Rui Leite – Serralves e Emily partem numa missão diplomática à recém-descoberta colónia de “Static Falls” onde tudo parece ter parado em meados do século XX. No entanto, nas entranhas daquela estranha comunidade, escondem-se terríveis segredos que poderão significar o fim do Comandante.


Opinião:

Quem aqui acompanha os meus comentários, sabe que tento divulgar a FC, no entanto, como em todos os géneros, há livros bons, outros razoáveis e outros que não gostamos, o que não quer dizer que não tenham qualidade.

Por exemplo, há quem adore o “Carbono Alterado” do Richard Morgan, ou “Um Cântico para Leibowitz” do Walter Miller Jr., eu pessoalmente não gostei, embora reconheça qualidade nos livros.

Ainda assim, tenho conhecido excelentes autores de FC, dos quais gostei bastante, desde Frank Herbert, Ursula Le Guin, Ian McDonald, Farmer, Dick, Frederik Pohl, Roger Zelazny, Jack Vance, Gene Wolve, Harry Harrison, Joe Haldeman, entre outros. Por isso é sempre com expetativa que parto para a leitura de mais livros de FC, sendo que quando toca a ser escrito por escritores nacionais, e ainda quando conheço alguns pessoalmente (Vitor Frazão e Carlos Silva) e outros com quem convivo volta e meia no FB (Ana Ferreira, Inês e o Joel), maior é o interesse com que inicio a sua leitura.

Por norma até tento fazer os comentários pelo lado positivo dos livros, recordo-me que muita gente critica, por exemplo o Paolini, mas penso que foi um escritor importante para colocar muito jovem a ganhar hábitos de leitura, se depois o que o mercado tem para oferecer continua mau...ai já é outro problema...

Sendo direto, não gostei do livro, tem qualidade, isso é inegável e qualquer dos escritores tem perfil para escrever dentro deste género. Mas acaba por não se perceber muito bem o enredo disto tudo, apenas no conto da Ana Ferreira senti que nos era explicado o que um personagem pensava da sua existência, como a sua raça via o mundo, o que pensavam do planeta terra... parece-me que faltou mais informação, para que o leitor se enquadrasse melhor no que nos querem transmitir.

Penso que não ajudou, para um melhor entendimento do enredo, o facto de os contos não estarem ligados um com os outros. Acreditem que a informação que aqui partilho nesta mensagem, em especial nos episódios explica e muito bem o que se passou, mas garanto que o leitor que não leia a sinopse fica completamente “à nora”. Não tenham problemas em ler o que cada conto tem para oferecer, vai ser uma importante ajuda a quem queira ler o livro, que repito tem qualidade.

Depois algo sempre importante num livro, as personagens, não há uma que me tenha suscitado simpatia, fosse porque razão fosse, até podia ser uma personagem detestável, cruel, maligno, mas se fosse uma mais valia para o enredo ainda me cativava e houve várias que se fossem devidamente desenvolvidas tinham tudo para ser excelentes.

O livro é muito centrado no Comandante Serralves que, enquanto personagem, não cativa, se é verdade que tem enorme potencial, alguém que teve muita importância para que o planeta terra seja livre e tenha paz, algo reconhecido por onde passe, sendo considerado quase como uma lenda, momentos houve que nos foi apresentado como embirrento, vaidoso, convencido, que se sente superior aos outros e claro alguém que consegue desviar-se de tiros à queima roupa, mas pronto isso nem tem a ver com a sua personalidade. Não me convenceu.

Não deixo de dizer que o livro foi bem pensado, há talento de quem o escreve, mas penso que faltou uma personagem que cative, uma melhor exploração do universo onde a ação decorre, pelo menos melhor explicado e os contos deviam estar mais relacionados uns com os outros, repito não fosse ler agora esta sinopse e ainda estava à nora com o que se pretende com cada conto.

Um livro que até está a um bom preço, experimentem, quem sabe não vos surpreenda pela positiva.

domingo, 5 de outubro de 2014

Acácia - A União Sagrada de David Anthony Durham




Sinopse 

Três irmãos ainda sobrevivem, líderes que traçam um novo caminho para o Mundo Conhecido. Estarão à altura dos desafios que se lhes deparam?


A Rainha Corinn domina o mundo com o seu conhecimento profundo dos feitiços encontrados em A Canção de Elenet. O seu irmão mais novo, Dariel, torna-se numa figura mítica nas Outras Terras, enquanto a sua irmã, Mena, viaja até ao Norte Distante para defrontar uma invasão desencadeada por uma raça violenta decidida a conquistar o Mundo Conhecido. Os seus percursos individuais acabam por convergir em batalhas tumultuosas e os desafios que terão que enfrentar podem alterar a terra em que vivem para sempre…

Opinião

Este é claramente melhor livro que li de todos da serie Acácia e que faz com que esta saga tenha subido uns degraus nas minhas preferências de Fantasia. Uma bela surpresa, um livro que tem tudo para encher as medidas aos amantes da fantasia.

Sem dúvida que o escritor tem um universo muito bem construído, soube de forma gradual fazer as suas movimentações no tabuleiro do xadrez e se não fossem alguns aspetos que considero menos positivos, esta seria uma das minhas sagas preferidas dentro do género, tem tudo para isso.

Mas o que, quanto a mim, retira alguma qualidade ao livro são alguns aspetos de utilização de fantasia que considero completamente desnecessários. Por exemplo, temos uma personagem que é ressuscitada depois de morta, a personagem que a fez voltar novamente ao mundo dos vivos é num momento posterior confrontada com um exercito e sozinha consegue derrota-los, recordo-me que numa ninhada de 4 animais todos tem cores diferentes, ok estou a ser picuinhas, mas havia uma serie de outras situações que considero desnecessárias. A ver vamos como será o final do livro, espero não termos um confronto final, onde numa página tudo acabe por ser decidido, como referi estou a adorar as movimentações que o escritor está a fazer para termos um grande final de saga.

Sem dúvida que os aspetos positivos do livro, quer a nível de personagens, enredo e acima de tudo na escrita acaba por nos envolver de tal maneira na leitura do livro que acabamos por esquecer esses pormenores que considero dispensáveis.

Sendo que só falta mais um livro para que a saga termine deixarei mais para o final um comentário mais geral à saga, estou com imensas expectativas pois o que li deixou-me surpreendido.

Não podia deixar de fazer um reparo à Editora, já tinha referido em comentários anteriores que não faz muito sentido a divisão dos livros, embora reconheça que este livro é maior que os anteriores, mas não compreendo como estamos desde janeiro de 2013 à espera que um novo livro da serie seja colocado no mercado, é muito tempo.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Uma década de novas oportunidades


Ela tinha tudo para dar errado!
Ainda mal tinha começado a sua juventude e já esta era interrompida abruptamente.
Em boa verdade acho que ela tinha tudo para dar certo, mas acabava sempre por fazer as coisas ao contrário.
 Podia ter continuado a ser uma aluna excelente, mas preferiu ser preguiçosa. Não precisava estudar muito para ter notas razoáveis e notas razoáveis chegavam para quem andava a estudar por estudar. 
 Podia ter terminado o liceu mas no primeiro 11ºano achou que não fazia mal nenhum ficar algumas vezes com os amigos pelo café. Tinha boas notas e os professores iriam perdoar. Correu mal! Leu Os Maias durante as férias da páscoa e quando chegou à escola estava chumbada por faltas. Ela nem gostava muito de ler...Talvez por isso aquele seja um dos livros mais marcantes da sua vida.
Durante a primeira fase da sua vida foi assim, vendo passar o tempo. 
Levava a vida tranquilamente. Não sabia o queria fazer no futuro e isso libertava-a de certas preocupações, como os estudos.
Tinha amigos, uns trocos para café e cigarros e não arranjava confusões em casa e na rua. Nada fazia prever o que veio a acontecer.
Ela achava que mal nenhum lhe podia acontecer, não fazia mal a ninguém e não havia razão para ser castigada. Por vezes brincava mesmo com a sorte. Até ao dia em que o chão se abriu debaixo dos pés e se viu numa queda, desamparada, sem fim a vista…
                                  
***

 Os bebés são seres adoráveis e enchem de alegria qualquer casa. No entanto também podem ser um grande problema, uma tragédia, um inconveniente… principalmente quando os pais são jovens e não têm a mínima vontade de partilhar uma casa. Aliás, porque haveriam de pensar em tal coisa com uma juventude toda para viver?
Ela tinha tudo para dar certo, mas brincou com a sorte.
A sua maior desgraça é hoje a sua maior alegria, fonte de inspiração, motivo para viver e lutar por dias sempre melhores, companhia, razão para levar uma vida o mais correcta possível (educar com exemplos e esconder bem qualquer desvio) e o seu maior desafio. Mas nem sempre foi assim…

***

 Depois de se ver em queda livre, adormeceu num sono estranho. Um choque que lhe causou uma inércia total, uma sensação inexplicável.
Sem vontade de viver, sem noção de nada, fez tudo que lhe disseram, o que era suposto fazer nestes casos.
Bem, o caso dela é como tantos outros e realmente aconteceu o que era suposto. Uma separação… mais tarde.
Foram precisos quatro anos para cair no chão e começar a perceber o que se tinha passado com ela. Estava tudo errado, estava tudo um caos.
Durante este tempo todo, a única coisa boa que conseguia ver era o facto de estar empregada, na sua aldeia, a poucos metros de casa e do infantário do filho. Que sorte teve! Nem procurou. Tinha o filho dois meses quando lhe bateram a porta para oferecer trabalho. Trabalho esse que mantém a quase uma década.

O Jogo mudou.

Agora, tinha tudo para dar errado.
Ela tinha tudo para dar errado.
Podia ser mais uma mãe desesperada, incompreendida, revoltada e amargurada, mas a vida tinha outros planos para ela.
Ela podia ter dado ouvidos aos mexericos e malditos e enfiar- se em casa a fazer bordados para enfeitar paredes, levar uma vida tranquila, ser invisível e ficar fechada em casa a lamentar-se. Assim ninguém ia falar, ninguém se ia lembrar, ninguém se ia importar.
Ela disse, “Basta!! Agora quem cuida da minha vida, sou eu.” Não é um processo fácil quando não se sabe o que se quer.
Ela podia ficar em casa apática, a fumar cigarro atrás de cigarro, a olhar para as chamas na lareira, a ver a madeira transformar-se em cinza, a ver a sua vida queimar sem tirar proveito nenhum…
Ela nem acabou o liceu e isso começava a pesar-lhe na consciência. Senão tivesse chumbado aquele ano por faltas... Podia ter feito o 12ºano sem grandes problemas, mas ficou a um ano de terminar o liceu e isso era a sua marca, o seu falhanço. (agora as metas já tinham alguma importância). Sem estudos, sozinha, com um filho para criar e educar, numa aldeia sem futuro… podia não dar errado mas não ia ser bom de certeza.

Que futuro a esperava?

Descobriu então que existia uma possibilidade de completar os estudos, algo chamado Novas Oportunidades. Caso aproveitasse ficaria com equivalência ao 12ºano. Nem pensou duas vezes, estava na hora de voltar a aprender e por o cérebro a funcionar.
Estava tão enganada! Não aprendeu nada de novo.
Ela não aprendeu nada de novo, mas esta etapa mudou a sua vida para sempre.
Como todos os que passaram por este plano, teve de escrever um “livro”, falando da sua vida e suas competências.
Todo este processo acabou por ser de certa forma terapêutico. Voltar atrás no tempo, mexer em memórias, reviver a sua vida antes de todo aquele pesadelo fez-lhe bem. Também foi fundamental ter alguém a dar-lhe valor e incentivo para acordar para a vida e dar uso às suas capacidades, foi renovador. Ela gosta de pensar como reagiria o professor se soubesse que agora tem um blogue, que gosta de ler e escrever, que saiu de casa e se envolveu na comunidade e  já consegue ter um discurso mais claro (sim porque a mente dela é cheia de frases sem ligação, pensamentos desarrumados e não se conseguia exprimir).
A menina que entrou na sala pela primeira vez sem falar, alheada do mundo, saiu renovada e cheia de vontade de mudar o seu rumo.
Ela gostava de ficar sentada à lareira a fumar e contemplar as chamas, mas um dia fartou-se. Decidiu sair de casa e mostrar-se ao mundo, mostrar que era capaz, que queria deixar uma marca e sentir-se bem na comunidade. Não era nenhuma doida varrida e muito menos coitadinha. Bem, fazia alguns disparates mas era muito mais que isso.
Ela podia ter ficado sossegadinha em casa a ver Tv com o filho, mas decidiu juntar-se a um grupo de jovens que achava que podia fazer coisas extraordinárias na comunidade; passou a ajudar o pai no grupo coral (duvido que se converta, mas faz o seu papel com muito respeito e empenho); criou com um amigo um grupo para ensinar jovens a tocar viola ( (A)CORDA) e com o tempo foi descobrindo o seu lugar na comunidade.
Todas estas tarefas interferiram com a sua vida e foi preciso algum sacrifício e método para não falhar com as suas responsabilidades.
Durante todo este tempo cresceu imenso.

***

Os últimos anos que passaram foram tão confusos… Mudei tanto…
Também cometi alguns erros e confesso que a maioria não me arrependo. Não são eles que me definem. Não sou o que passei e sim o que superei. Fazer as pazes com o passado é fundamental.
Descobri no meu filho, na música, na leitura e na convivência com os outros, o segredo para me manter firme... Dedicação! Dedicar-me a tudo e todos que gosto, dá-me alegria e energia. Tudo fica mais fácil de suportar e deixamos de inventar problemas. Deixei de ser má companhia para mim.
Deixei também de fumar e agora já não consigo estar muito tempo a olhar para a lareira, a não ser que me perca a ler um livro. Os livros são a minha nova companhia, terapia e inspiração.
Descobri há pouco tempo este mundo maravilhoso da literatura e para meu orgulho já contagiei o meu filho (o Pirata)
Descobri uma nova paixão. Descobri também que é impossível juntar muito dinheiro quando se gosta tanto de livros. Mas não está mal, troquei cigarros por livros.
 Viverei mais anos sem dinheiro, mas terei sempre livros…



Quero agradecer o Fiacha por me desafiar.
Agradecer a todos os que leram este texto até ao fim. É um pouco grande mas não é fácil resumir uma década de vida. Foi intensa.
Estava com algum receio de escrever, mas é um prazer partilhar este bocadinho de mim aqui. Já me sinto parte deste Universo Fiacha. Tenho aprendido muito com todos.
Obrigado!

Podem conhecer as minhas leituras e outras aventuras no meu blogue A Guerra dos Sonos em http://aguerradossonos.blogspot.pt/
 (ás vezes as pessoas ficam viciadas em séries e travam grandes batalhas com o sono, depois dão nomes estranhos ás coisas :P)


Também tenho a página no facebook, esta um pouco mais movimentada https://www.facebook.com/aguerradossonos

Espero que tenham gostado. Aceito criticas. 
Boas leituras.
Beijo ;)